Como fazer barcamps de tradutores e intérpretes

*Texto publicado originalmente no Medium, reproduzido com autorização da autora, que é membro deste grupo.

Janeiro de 2013. Eu tinha acabado de mudar para Curitiba e como sou autônoma e trabalho em casa, estava me sentindo muito sozinha (algo comum na nossa área). Mas eu já vinha há alguns anos participando de encontros profissionais em outras cidades, então pensei: preciso procurar (ou criar) minha turma local. Aí, seguindo o exemplo do pessoal de Florianópolis, onde eu tinha participado do primeiro encontro de tradutores da vida, resolvi organizar um PowWow. E foi muito bom, teve até gente de fora de Curitiba vindo só para participar:

Primeiro encontro de tradutores e intérpretes de que participei em Curitiba, em 09/03/13

Depois desta primeira reunião, tivemos várias outras, normalmente em bares, restaurantes e cafés. E num happy hour em janeiro de 2014 veio o oferecimento de um espaço fixo, onde começamos a nos encontrar mensalmente, promovendo apresentações, debates e oficinas. Foi em outubro desse mesmo ano que decidimos chamar os encontros de Barcamps, já que seguimos a mesmo filosofia destas reuniões profissionais e horizontais. E em abril de 2017 fizemos nosso trigésimo barcamp! Muita água já rolou debaixo de todas as pontes construídas, já migramos para vários lugares diferentes, participamos de congressos (e ajudamos a construir outros) e continuamos a colocar frente a frente profissionais iniciantes e veteranos (e pessoas de outras áreas também), para juntos inferirmos no mercado e na prática de nossas profissões.

Nos barcamps aprendemos de tudo, inclusive a apresentar… apresentações

E como de vez em quando alguém me pergunta como poderia começar a organizar barcamps em sua própria cidade (hoje mesmo eu estava falando com uma colega sobre isso), vou dividir aqui neste artigo a nossa experiência. E para deixar claro: não influenciamos em nada na organização dos grupos de outras cidades, apenas relatamos nossa experiência como um ponto de partida possível, trocamos ideias e ajudamos em tudo o que pudermos, até mesmo participando de uma ou outra edição, de forma presencial ou virtual. Mas cada grupo tem suas próprias regras e procedimentos, seguindo apenas a mesma filosofia dos barcamps em geral, de discutir e decidir tudo em grupo, de forma coletiva.

A organização dos barcamps em si é simples: basta ter um local, marcar um dia e horário, chamar as pessoas por e-mail, grupo de Facebook, Whatsapp, o que houver à disposição, ou mesmo criar um evento como um PowWow ou Meet-up (é legal porque fica centralizado, todos podem acessar on-line). Nesse primeiro encontro o grupo discute como serão os próximos, como cada um pode contribuir, etc. O espírito dos barcamps é justamente o da participação, uma atmosfera estabelecida pelos organizadores, deixando canais de comunicação abertos e informações claras e disponíveis a todos.

Normalmente começamos cada encontro com uma pequena apresentação dos presentes, e entramos na pauta do dia, cuja elaboração inicia na reunião anterior, mas é complementada também no momento da reunião. Qualquer pessoa pode propor pontos de pauta, que podem ser palestras, debates, oficinas, conversas abertas, discussões para decidir sobre ações. Foi assim que todas as ações do grupo de Curitiba e agora dos grupos das outras cidades foram elaboradas: por discussão coletiva, troca de ideias em conjunto e a disposição de cada um em ajudar como puder (seja com opiniões ou ações).

Agora já existem grupos organizando barcamps em várias cidades além de Curitiba (Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife e São Paulo) e cada um deles estabeleceu canais de comunicação a partir da própria experiência. Todos têm grupo no Facebook e costumam abrir eventos e/ou enviar e-mails avisando o pessoal sobre os próximos encontros, ou deixam um e-mail de contato para quem quiser se inscrever, se houver um limite muito estrito de lugares no espaço agendado. Vídeo de parte de um dos barcamps realizados no Rio de Janeiro

O pessoal do Rio de Janeiro tem seu próprio blog, mas temos também um site que centraliza informações de todos, publicando os relatos de cada encontro e a agenda dos próximos. Estamos em comunicação constante e os organizadores se reúnem virtualmente no mínimo uma vez por mês, para compartilhar ideias, ações feitas ou mesmo pedir ajuda para resolver problemas.

Para a organização inicial, é bom ter no mínimo duas pessoas, para dividir o trabalho e não sobrecarregar ninguém. E a cada encontro, tentar integrar mais pessoas para isso, que no início podem ajudar em tarefas menores e necessárias como registrar o relato do encontro ou tirar fotos. Para o espaço, é uma boa ideia contar com o apoio de universidades (convidando professores e alunos para participar). Ou mesmo escolas de idiomas, bibliotecas, escritórios de coworking ou outros espaços que tenham a ver com nossa atividade, seja por afinidade ao aspecto linguístico ou empreendedor. Mas nada impede que o primeiro encontro seja num bar ou café, por exemplo, como fez o pessoal de Recife e de Porto Alegre.

O número de participantes varia bastante, não é raro termos barcamps com menos de 10 pessoas e há pouco tempo houve um em São Paulo com mais de 50. Mas o objetivo não é ter o maior quórum possível, e sim aprimorar continuamente a qualidade de cada encontro, tanto para o grupo em geral, como para os participantes individualmente. Por isso que uma das partes mais importantes é o momento do networking, na forma de um café comunitário. Os participantes costumam se organizar antes e trazer comida e bebida, que todos os presentes consomem enquanto se conhecem melhor, conversam sobre os temas discutidos, suas práticas, aspirações, criam laços de confiança e fazem parcerias.

É verdade que nem sempre é fácil administrar as vontades destes grupos, que podem ser muito heterogêneos em termos de que direcionamento os participantes querem tomar. Normalmente o primeiro encontro é direcionado pelos organizadores, e daí em diante são feitas votações abertas sempre que algo deve ser decidido. Quando algo que afetará o grupo todo deve ser implementado, são elaboradas regras e usados métodos que contemplem as necessidades e habilidades dos membros. Por exemplo, em Curitiba sentimos a necessidade de elaborar um código de ética que agora é a base do nosso programa de mentoria, duas ações que surgiram a partir de discussões frequentes sobre como inferir na qualidade e no profissionalismo em nosso mercado.

Caravana ao congresso da ABRATES organizada a partir dos barcamps de Curitiba

Outro exemplo prático de multiplicação de forças que vem dos barcamps: quando surgiu a possibilidade de termos um congresso do ProZ em Curitiba, foi a organização do grupo local que possibilitou uma série de atividades no evento, como as miniconsultorias. E uma consequência direta deste evento foi o surgimento dos barcamps do Rio de Janeiro e de São Paulo, pois duas das organizadoras, ao tomar conhecimento de como o grupo era organizado aqui, resolveram organizar grupos nas duas cidades.

E se você quiser iniciar na sua também, fale com a gente e vamos trocar ideias! Pode até ser que já haja outros interessados que falaram conosco e daí podemos colocar todos em contato, como já aconteceu em outras cidades.

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