
O barcamp de agosto em Curitiba foi no dia 19/08/17. Mais uma vez usamos a Tecnologia do espaço aberto (TEA, ou OST em inglês, de Open Space Technology), uma abordagem para situações nas quais um grupo diverso de pessoas deve lidar com questões complexas de forma produtiva. Neste relatório, apresentamos a discussão feita no dia.
Estes foram os temas propostos para discussão e respectivos votos:
- Mercado de trabalho (14)
- Como abordar agências de tradução (11)
- Localização (10)
- Como começar no mercado de trabalho (10)
- Apresentação profissional: blogs (9)
- Qualidade de vida e saúde no dia a dia (9)
- Como abordar empresas para divulgar nosso trabalho com enfoque direcionado e profissional (8)
- Revisão de tradução (8)
- Como lidar com flutuação de demanda (7)
- O que fazer quando o texto original é ruim e prejudica o trabalho (7)
- Saúde dos tradutores (6)
- Mercado de trabalho no Paraná, remuneração de intérpretes no mercado nacional (5)
Começamos falando de mercado de trabalho, o tema mais votado. O primeiro comentário foi de uma tradutora que falou sobre as medidas que tomou até agora para entrar o mercado de trabalho: atualizou o perfil no Linkedin, expôs em destaque o trabalho voluntário que fez, produziu um CV criativo no Canva, completou o perfil do ProZ e queria saber o que mais poderia fazer. Conversamos então sobre a importância de preencher o perfil do ProZ com o máximo de informações possível e usar o Blue Board para verificar a idoneidade de agências.
Mesmo assim é preciso cuidado, dado o exemplo comentado por alguém que já trabalhou para a agência MotaWord, que paga só quando o tradutor faz trabalhos suficientes para acumular um pagamento de 25 USD. Esta pessoa levou dois anos pra receber 9 USD e não considerou a nota da agência no Blue Board baixa o suficiente para talvez justificar essa prática. E também comentou que usa as técnicas da Comunicação não violenta, para questões que impliquem possível conflito com agências e outros clientes. pois são técnicas que “esfriam” situações e ajudam a atingir objetivos.
Há quem só entre em contato com as agências que tenham nota máxima no ProZ, e mesmo assim é preciso cuidar e pedir todas as informações que achar necessário. A falta de informações ou de boa vontade em fornecê-las já pode ser um sinal de alerta. Comentamos então sobre outros meios de investigar a idoneidade de agências, além do Blue Board: Translators Café, fóruns do ProZ, grupos do Facebook, ver o site da agência. Também foi aconselhado tomar cuidado extra com agências indianas e chinesas (que em grande parte pagam pouco e há vários relatos de inadimplência).
Em relação a estabelecer uma presença profissional, considera-se que ter um perfil do ProZ é quase obrigatório e encontros presenciais como o nosso trazem segurança, pois são uma boa forma de conhecer outros tradutores e suas práticas. Outra forma de fazer isso é participando de grupos no Facebook, e há um grupo chamado Things Translators Never Say que mantém uma lista atualizada e completa de outros grupos no Facebook voltados à tradução, em vários idiomas e especialidades. Surgiu uma dúvida sobre sites para tradutores e o que os presentes achavam de tê-los. Ninguém tinha uma experiência de sucesso para compartilhar, mas todos concordaram que é importante ter um portfólio para mostrar sua capacidade e experiência, especialmente para os iniciantes. Há um bom artigo em inglês sobre o tema: How to create an effective portfolio for your translation business.
Os lugares sugeridos para fazer um portfólio foram: perfil do ProZ, Babelcube, fazer traduções voluntárias em plataformas como a do WordPress e Web Comics. Aproveitando que foi falado do WordPress, divulgamos o Global Translation Day 3, que será no dia 30/09, um dia inteiro dedicado à tradução voluntária da plataforma do WordPress, aberto a todos.
Passamos então a discutir como abordar empresas para divulgar nosso trabalho com enfoque direcionado e profissional. A primeira sugestão foi fazer um boletim informativo (newsletter) para enviar a clientes diretos e corporativos, contendo informações relevantes para a área deles, o que pode colocar o tradutor em evidência como especialista. Foi recomendada a newsletter de Ann Friedmann como referência e possível fonte de conteúdo, pois ela divulga artigos interessantes que costumam ser compartilhados com frequência. É preciso apenas tomar cuidado para que o conteúdo divulgado no boletim seja relevante e não apenas um discurso de venda, pois isso não passa uma boa impressão. Foi dado o exemplo de uma pessoa que vende serviços de formatação e diagramação e envia e-mails constantes apenas com anúncios dos seus serviços, o que acaba sendo cansativo, de tão insistente.
Algo importante a lembrar sobre a própria apresentação, seja para clientes diretos ou para o mercado em geral, é afirmar-se como profissional. O tema foi abordado em um artigo que saiu há pouco tempo na Revista Claudia falando do trabalho de profissionais independentes (“freelancers“), chamado O preço de ser livre. A autora afirma que precisamos nos fazer ser respeitados e que o nosso trabalho não é mero “frila”, mas um serviço independente, não por isso menos profissional. Isso passa pela forma como escrevemos e-mails, por exemplo, com uma mensagem clara e personalizada, preferencialmente dirigida a alguém específico, que pode ser encontrado no LinkedIn, por exemplo.
Em seguida falamos sobre como se estabelecer em termos de situação fiscal e legal: o ideal é ser pessoa física ou jurídica? Depende de vários fatores, entre eles a necessidade de nota fiscal e suas condições. Como pessoa jurídica, para fornecer nota fiscal declarando serviços de tradução é preciso ser Microempresa (ME). Quem não precisa declarar expressamente serviços de tradução, mas precisa emitir nota fiscal, pode ser Microempreendedor Individual (MEI), desde que obedeça aos critérios publicados no Portal do Empreendedor.
Outra questão levantada na discussão foi a tarifa que deve ser aplicada ao oferecer serviços a clientes diretos. Exemplos de oferta de tradução a 0,05 USD, por exemplo, provavelmente não incluem um serviço de revisão extra, um fator importante para prestar serviços profissionais. A revisão é importante até na apresentação profissional, no CV, em blogs, e quanto antes entrar no processo, melhor será o resultado. Nas agências, por exemplo, esse serviço é normalmente oferecido, o que justifica a cobrança de seus valores, que costumam incluir revisão, diagramação, formatação e todos os outros serviços associados à tradução, da venda à cobrança e tudo mais. Essa parte da discussão foi finalizada pelos comentários sobre as diferenças entre tradução literária e técnica, que exigem cuidados diferentes dependendo das variedades linguísticas. Essa questão faz diferença na forma em que o(a) profissional se apresenta e como cobra, por exemplo.
Passamos então a discutir o tema de localização. Há muita curiosidade a respeito da área, o que aborda, se é apenas voltada a jogos e sites e como diferenciar transcriação de localização, para além da definição acadêmica. Foi comentado sobre o ENTRAD, o evento anual de tradução da UTFPR, e a possibilidade de usá-lo para esclarecer o público a respeito do tema. No ano passado o evento foi mais voltado a outros nichos, este ano será mais teórico e a ideia é que no ano que vem seja temático e voltado à localização. Foi comentado que muitos alunos têm uma noção glamourizada da tradução, falta injeção de mundo real e de conhecimento em áreas específicas.
Aproveitando a discussão sobre eventos da área e correlatos, foi divulgado que haverá uma palestra sobre localização de jogos no dia 21/09, durante a 36ª Semana Literária do SESC em Curitiba, com Thiago Hilger e Sheila Gomes. E nos dias 20 e 21 de outubro haverá um curso de Legendagem, com Luiz Fernando Alves, na PUC-PR.
Passamos então a discutir os aspectos únicos da localização. Foi citado que o resultado a ser atingido depende muito do público, pois além de sites e jogos, que são as aplicações mais comumente conhecidas da localização, ela pode existir até na área médica, um tema apresentado numa palestra no último congresso da ABRATES. Outra área da localização é na publicidade, onde se trabalha muito com a questão da identidade local para personalizar a mensagem. Uma particularidade da localização é conhecer a área na qual se traduz para saber lidar com SEO na tradução de sites, como relata um artigo em espanhol sobre localização para a Internet, publicado no blog Algo más que traducir.
A discussão voltou-se então a agências de tradução e sobre como entrar neste mercado. Alguém contou que começou a trabalhar com uma agência depois de receber um e-mail deles. A pessoa não tinha solicitado o contato anteriormente e até achou que era scam, mas foi assim que começou a trabalhar com eles. Depois ele acabou fazendo um perfil no ProZ, conseguiu ser contratado como intérprete e depois tradutor.
Outra pessoa conta que entrou no mercado por causa dos Barcamps e da professora do curso de tradução, além da mentoria, onde aprendeu a ter uma postura profissional. Fazer uma mentoria é uma boa opção de preparação para o mercado de trabalho. Recomenda-se também ter uma área de interesse e procurar grupos, entrar e conhecer as pessoas da área, tornar-se conhecido, aí as oportunidades aparecem. Aprender e adotar áreas de especialização é muito importante. No começo pode um certo receio de se assumir tradutor, principalmente se a pessoa não tem formação específica em tradução. Mas vários dos tradutores mais antigos também não tinham formação de tradução. E mesmo pessoas de outras áreas que resolvem se dedicar a traduzir podem se dar bem na área, principalmente se souberem escrever bem e se dedicarem ao estudo constante.
É preciso ser claro e comunicar as dificuldades para estabelecer uma boa relação profissional com qualquer tipo de cliente, mesmo agências. Por exemplo, agências que mandam arquivos em formato PDF e esperam que se faça a formatação, devem ser informadas que isso foge do escopo do trabalho do tradutor e que esse é um serviço extra, cobrado à parte, pois toma tempo e exige conhecimento especifico. Deve-se perguntar tudo, sempre, pois trabalhar na dúvida pode gerar muitos problemas depois.
Discutimos então o que fazer quando o texto original é ruim e prejudica o trabalho. No caso de se trabalhar com clientes diretos, a gentileza faz muita diferença. É recomendável ter uma postura acessível, colocando-se no mesmo nível do cliente e pedindo explicações sem evidenciar que haja erro, quando um texto não parece claro ou tem erros (“Por gentileza, explique melhor, não tenho certeza se entendi” ou “Entendi tal coisa, é isso mesmo?”). Pode acontecer de o cliente ter errado sem perceber e nesse momento ele terá a chance de esclarecer o que pretendia expressar com o texto.
O último assunto discutido foi blogs de tradutores, principalmente como eles podem colaborar para o aprendizado, para apresentar a qualidade da escrita e mostrar engajamento do profissional com o seu meio. Falamos de alguns blogs populares, como: Texto e contexto, Thoughts on Translation, Jogo da tradução, Empty pages (um blog sobre tecnologias de tradução, principalmente tradução automática) e o blog mais conhecido do OmegaT. Em relação a plataformas, há quem use o Medium, o WordPress e foi sugerido também usar o Evernote, que tem recurso para construir um blog a partir dos registros no programa, explicado no YouTube por Vladimir Campos.