
Vou contar uma breve história que talvez possa animar muita gente que está começando agora. Não que eu seja uma tradutora com uma carreira de muitos anos, mas acho que as poucas histórias que tenho para contar podem servir de inspiração.
Quando criança, eu era extremamente curiosa e inconformada. Nunca estava satisfeita em perguntar, eu pesquisava para achar as respostas e, muitas vezes, acabava inventando uma história sobre o que eu tinha aprendido. Fazia listas que viravam resumos que viravam livros. Quando precisei escolher o curso que faria na faculdade, transitei por vários caminhos. Fui das Artes Cênicas à Filosofia, do Jornalismo às Relações Internacionais. E acabei fazendo Letras. Com bacharel em Tradução.
Eu nunca sonhei em ser tradutora. O meu sonho sempre foi trabalhar escrevendo, pesquisando, refletindo, fazendo escolhas. Durante a faculdade, pensei em parar várias vezes. Mas ao mesmo tempo, sempre busquei entender como funcionava essa tal de tradução, pesquisando e buscando trabalhos. Nunca esqueço o meu primeiro trabalho remunerado: a versão de um artigo científico falando sobre a folha do pepino. Me matei e ganhei quase nada. Depois, descobri as agências. Comecei ganhando poucos centavos por trabalhos que fazia à noite quando chegava da escola de inglês onde eu dava aula. Ouvi vários “nãos”.
Mas a criança inconformada queria mais e foi fazer mestrado.
Resolvi pesquisar sobre legendagem e me apaixonei. Continuei com as agências que já eram outras e pagavam melhor e com as aulas de inglês que já não davam mais tanto prazer. O mestrado foi tomando forma e seguindo seu caminho junto com outras especializações, congressos e encontros de tradutores onde encontrei pessoas inspiradoras. Mesmo gostando de tudo o que encontrava no mundo da tradução, a grama dos vizinhos sempre era mais verde e eu ainda pensei em desistir. Tinha parado de dar aulas de inglês, não conseguia clientes e não tinha um fluxo de trabalho regular. Fazia dezenas de testes, mandava centenas de e-mails e nada.
Até que as coisas começaram a acontecer.
Comecei a trabalhar em uma editora como tradutora e revisora. E aquele trabalho era exatamente o que eu queria. Eu não sabia que queria ser tradutora, mas de repente me vi sentada em frente a um computador fazendo exatamente aquilo que sempre quis fazer: trabalhar escrevendo, pesquisando, refletindo, fazendo escolhas. As respostas dos testes começaram a aparecer. Alguns com bons resultados, outros nem tanto. Os primeiros filmes vieram, as traduções técnicas e o feedback positivo também. As indicações de clientes trouxeram outros clientes e o trabalho foi aumentando.
Hoje, cada dia mais eu vejo os resultados da minha curiosidade e teimosia, das escolhas que fiz e das atitudes que tomei. A criança curiosa e inconformada encontrou o seu espaço. E um dos melhores sentimentos que tenho é poder dizer que estou cheia de trabalho. Cheia de tradução.
Fernanda Silveira Boito é tradutora de inglês e português, residente em Maringá. É licenciada em Letras-Inglês e Bacharel em Tradução e mestre em Letras (Tradução) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Trabalha com tradução técnica e legendagem.
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