
Tradutora. Minha carreira nessa profissão foi construída como um quebra-cabeça que começou a ser montado lá na infância e foi se delineando à medida que as pequenas peças iam se encaixando.
A primeiríssima delas foi a curiosidade inata. Quando criança lia muito, tudo que caísse nas mãos, tudo mesmo, da coleção infantil de Monteiro Lobato a bulas de remédio, e sempre observava meus pais em suas tarefas. Ficava por perto, pedindo explicações. O que você está fazendo? Que máquina é essa? E aquela ferramenta? E aquele pedacinho de metal? Serve para quê? Como esse equipamento funciona? Ainda bem que eles eram pacientes…
Aos 12 anos, surgiu outra peça que seria definitiva: comecei o curso de inglês na Cultura Inglesa, matriculada por minha mãe com o objetivo de ocupar minhas tardes ociosas de adolescente. Foram oito anos de estudo e acabei contagiada pelo amor aos idiomas.
Um pouco mais tarde, veio o curso técnico de Desenho Industrial no finado CEFET-PR, no qual aprendi muito mais sobre ferramentas, técnicas, processos e materiais. Nessa época, sonhava em ser arquiteta. Mas não passei na prévia de do vestibular e, sem saber muito bem o que fazer, segui a orientação de um teste vocacional e entrei na faculdade de Publicidade e Propaganda. No entanto, já na metade do curso sabia que não queria ser publicitária. Minha nova meta profissional passou a ser trabalhar no departamento de marketing ou gerência de produto de alguma grande empresa. A maioria dos estágios era em agências de publicidade, mas, um dia, surgiu a vaga que eu esperava: uma multinacional procurava uma estagiária que fosse técnica em Desenho Industrial ou estivesse fazendo o curso superior de Publicidade!
A informática ainda era uma grande novidade, e o setor de tradução técnica da companhia queria alguém para o projeto (então) inovador e ambicioso de diagramar e imprimir internamente os manuais antes produzidos pelo processo tradicional de composição e impressão em gráfica. Embarquei na aventura, aprendi a usar computadores, tornei-me editoradora e fui formalmente apresentada à tradução e aos textos técnicos. Porém, embora às vezes precisasse traduzir uma ou outra frase, eu ainda era apenas uma expectadora do serviço dos tradutores.
Isso mudou alguns anos depois, quando um colega de setor e eu decidimos abrir nosso próprio escritório de tradução e editoração. Logo estávamos prestando serviços para nosso antigo empregador, cuja demanda de tradução era bastante significativa. Foi aí que comecei realmente a traduzir, orientada pelo meu sócio. E não parei mais. Vieram novos clientes, novas áreas de conhecimento, novas tecnologias, novas técnicas de trabalho. A sociedade terminou e agora trabalho como tradutora independente.
A profissão é fascinante e adoro a dinâmica da área, sempre com novas tecnologias e novos temas a explorar. Além disso, os diversos eventos da área proporcionam um rico contato com outros tradutores e resultam em mais aprendizado, parcerias interessantes e, no mínimo, uma ótima conversa. Por tudo isso, sinto que esse quebra-cabeça ainda está longe de ser completado – ainda bem!
Márcia Nabrzecki é tradutora no par inglês<>português e revisora, especializada nas áreas de comunicação corporativa, marketing, informática e engenharia. Reside em Curitiba.
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