
Foi uma das maiores humilhações que já sofri. Depois de dois anos e meio de esforços e sofrimentos, tive de passar para frente minha franquia Fisk em Porto Alegre e voltar para São Paulo. Não nasci para aquilo. Voltei com uma mão na frente e outra atrás e fui morar de favor na casa do sogro que, aliás, me recebeu muito bem. Isso foi em 1970.
Aqui, continuei na Fisk, de novo como professor, mas sabia que aquilo não era bom, porque, entre primeiro de dezembro e carnaval, não havia serviço e, portanto, não se ganhava nada.
Um dia, na secretaria da escola, me perguntaram se eu queria fazer umas traduções. Topei na hora. Já tinha feito traduções mais de uma vez na vida e não me dado de todo mal. Mesmo que tivesse, do jeito que a coisa andava, era capaz de aceitar serviço até de trapezista. Mas era um negócio da China: quatro horas por dia, de manhã, cinco dias por semana, com 50% de adicional de “aula externa”. Qualquer um que tenha ensinado em curso livre de línguas sabe que isso não se recusa.
A empresa era a Arthur Andersen, naquela época a mais orgulhosa entre as firmas de auditora. Foi lá que aprendi essas coisas de contabilidade e finanças, impostos e direito societário. Virei especialista e escravo de minha especialidade. Até hoje, é o que mais faço.
Quinze dias depois, liguei para a Editora Atlas, oferecendo meus serviços. Disse que traduzia para a Arthur Andersen e, com isso e um teste pequeno, me contrataram.
Claro que eu não tinha ideia do que estava fazendo, mas a falta de dinheiro é uma excelente mestra e fui aprendendo, aos trancos e barrancos. Não era como agora. O curso da Anhanguera se chamava “Faculdade Ibero-Americana” e ainda estava começando. Tradução era geralmente considerada passatempo de intelectuais. Era tudo na base da máquina de escrever.
Conhecia poucos tradutores e a gente não trocava informações, por medo da concorrência. A Internet mudou tudo isso. Comecei a participar ativamente de troca de informações logo que foi liberada para uso de particulares, lá para 1995. Participava da trad-prt quando ainda era no IF da USP e mais caia do que funcionava. Logo depois do ano 2000 já estava dando cursos a distância. Nunca parei.
A Arthur Andersen desapareceu em 2002, vítima de seus próprios erros. A Editora Atlas continua firme, mas não publica mais traduções. Eu estou aqui, no Multitude, compartilhando um pouco da minha experiência.
Danilo Nogueira, tradutor IN-PT, residente em São Bernardo do Campo, SP. Especializado em tradução na área de negócios.
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