
Meu primeiro contato com o estudo de idiomas foi aos onze anos, na quinta série do ensino fundamental, em Porto Alegre. Era aquele inglês meia-boca de escola pública, bem mais ou menos, e que eu nem imaginava na época que seria o início da minha história de amor com a profissão que acabei por escolher: a de tradutor e intérprete. Após esse primeiro contato, nada de muito significativo aconteceu até 1978, quando, aos 14 anos, comecei o curso de inglês do Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano, ainda em Porto Alegre. Fiz o curso completo, até o nível avançado, com ênfase em gramática, literatura inglesa e tradução.
Foi nesta última disciplina do curso que tive as primeiras aulas de técnicas de tradução, com um professor que havia estudado em uma das primeiras turmas do curso de formação de tradutores e intérpretes da Associação Alumni, que dispensa apresentações. Em seguida, prestei exames e obtive os meus certificados de proficiência em inglês: CPE (Michigan) e CPE (Cambridge).
Simultaneamente ao aprendizado de inglês, estudei francês na Aliança Francesa de Porto Alegre, italiano na Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul e alemão no Instituto Goethe. Conclui os cursos de francês e italiano, mas não o de alemão: foram apenas dois semestres, o suficiente para adquirir apenas noções muito básicas da língua.
No início da minha vida profissional fiz algumas traduções ocasionais e fui professor em uma escola especializada em inglês para negócios e cursos de imersão. Dois anos depois, com três sócias, abri a minha escola de idiomas. Essa primeira aventura pedagógico-empresarial durou dois anos e meio, com altos e baixos e relativo sucesso.
Em 1992 minhas sócias e eu fechamos a escola e partimos para outros desafios profissionais. O meu foi tentar a sorte na Europa, em Lisboa, onde morei por quase um ano. Foi lá que, após um curto período como professor de inglês, fiz o que considero como o meu primeiro trabalho verdadeiramente profissional de tradução: participei de uma equipe que traduziu uma versão do Corão do inglês ao português.
A equipe, no caso, era composta por três pessoas. O editor, um português residente em Leiria, um sacerdote muçulmano, e eu. O trabalho era coordenado pelo editor, o sacerdote traduzia os versos sagrados do Corão (que não poderiam ser traduzidos por um “infiel” – eu, no caso) e eu traduzia as notas de rodapé que contextualizavam e explicavam os versos. Um trabalho interessantíssimo e o meu batismo de fogo! Outro ponto interessante foi o sistema de trabalho estabelecido pelo editor, que já era incomum na época e seria inimaginável hoje em dia. Ele enviava pelo correio algumas páginas do Corão em inglês, eu as traduzia a mão (ele fazia questão do texto manuscrito) e enviava as traduções para a editora pelo correio. Poucos dias depois eu recebia mais páginas do livro para traduzir e o pagamento pelas traduções entregues na correspondência anterior – em dinheiro vivo, cédulas mesmo, no envelope com o material novo. Assim passaram-se vários meses, até a conclusão do trabalho.
Naquela época, aproveitei algumas viagens curtas que fiz a Madri e Sevilha para estudar e aprender espanhol como autodidata. Praticamente decorei uma gramática de espanhol que eu havia comprado pouco antes de deixar o Brasil e atazanava até o limite a paciência de alguns dos meus amigos espanhóis sempre que tinha dúvidas. E assim, ao voltar ao Brasil, eu já havia assimilado mais um idioma.
No final de 1992 voltei ao Brasil para tentar a sorte em São Paulo. Trabalhei como professor de inglês em duas escolas de idiomas por alguns meses, até que, em julho de 1993 comecei a trabalhar como autônomo para uma agência de traduções chamada Styllus Traduções Comerciais. Foi lá que dei os primeiros passos como tradutor profissional em tempo integral, sob a orientação do Eduardo Tavares, que época era o tradutor-chefe da Styllus. Um grande tradutor e uma pessoa extraordinária, que foi muito importante no meu início de carreira. O melhor mentor que um iniciante poderia ter tido. Anos mais tarde tive o privilégio de contar com ele como colaborador e meu braço direito: trabalhou comigo por algum tempo, antes de se mudar para uma cidadezinha no interior de Minas Gerais.
Alguns meses mais tarde, fui contratado pelo Escritório de Traduções Aildasani, o embrião da atual Fidelity Translations. Aquele período de um ano e quatro meses como tradutor interno foi muito importante para a minha formação profissional. Aprendi muito com eles e só tenho boas lembranças daquela época.
Após essa experiência, no início de 1995 deixei a Aildasani para trabalhar por conta própria e começar uma pequena empresa de traduções, que administro até hoje. Seguiram-se quase vinte anos de muito trabalho e uma busca constante por aprimoramento profissional, com alguns períodos bons e outros nem tanto, coroados por algumas conquistas das quais me orgulho: os credenciamentos como tradutor e intérprete da Justiça Federal, tradutor do Tribunal de Contas da União e, mais recentemente, como perito do Tribunal de Justiça de Sergipe. E no final de 2013, após aprovação em concurso público em Sergipe, tornei-me tradutor juramentado (TPIC) de inglês e português.
Mas a minha busca pelo conhecimento continua, tanto que no início de 2013 decidi voltar à universidade para preencher algo que sempre considerei como uma lacuna na minha formação: a falta de embasamento nos aspectos teóricos da profissão. Encarei um novo vestibular e hoje estou cursando tradução e interpretação na Universidade Católica de Santos. Virei universitário da segunda idade e meia e estou adorando a experiência. Se tudo correr bem, a graduação será no final de 2015.
Enfim, enquanto tiver saúde e disposição, vou continuar fazendo o que cada vez mais amo fazer: ler, estudar, pesquisar e trabalhar como tradutor e intérprete, sempre lutando para pelo menos tentar sempre melhorar como ser humano e como profissional.
Agradeço à Sheila pelo convite para contar a minha história aos leitores do Multitude, deixo os meus dados de contato e fico à disposição, caso possa ser útil de alguma forma aos colegas.
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